De um barranco às margens do Rio Vacacaí, três rapazes se atiram na água na tarde escaldante de quarta-feira. Pelos movimentos deles, dá para notar que o local, fora da área delimitada para banho no Balneário das Tunas, em Restinga Seca, não dá pé. O trecho fica quase embaixo da extensa ponte de madeira, ferro e concreto que passa sobre o rio. Além da profundidade das águas, quem fica oculto pela estrutura não é visto pelos salva-vidas.
Os rapazes subestimavam o perigo não só de se afogarem, mas também de baterem a cabeça em algo que pudesse estar oculto nas águas. Indagados pelo "Diário", disseram se sentir aptos para enfrentar a natureza.
Já fiz natação, tenho preparo. Ontem (terça) estava nadando no fundo, me deu câimbra, mas consegui boiar para o raso. Fui treinado para isso relatou Júnior Almeida Figueiró, 18 anos, um dos que brincavam nas águas.
Moradores de Santa Maria, ele e o amigo Paulo Henrique Meneguine, 18, estavam acampados no balneário desde o dia 15 de janeiro.
Lugares como o que Figueiró e Meneguine tomavam banho sem salva-vidas ou em horários não monitorados por eles sediam a maioria dos 11 casos de afogamento ocorridos desde o início do verão na Região Central. No ano passado, considerando o mesmo período, houve apenas dois registros.
Placas indicam perigo
O excesso de confiança pode estar por trás de muitos afogamento. Saber nadar ajuda, mas não garante 100% de segurança. O problema é que os rios estão em constante mudança, não sendo possível conhecê-los sempre.
Não é uma regra, mas quem se afoga sabe nadar e subestima a água. Quem não sabe, não vai para o fundo explica o capitão Elisandro Machado, do 4ª Comando Regional de Bombeiros, em Santa Maria.
No Balneário das Tunas, placas de Perigo Buraco e Limite restringem a área de banho. A partir delas, há trechos com quatro metros de profundidade. Os salva-vidas precisam sempre estar de olho nos banhistas que ultrapassam a demarcação.
Às vezes, as pessoas percebem a placa mas vão em frente, experimentando. Elas veem que dá pé e vão indo, porque tem uma faixa de cinco metros depois da placa que ainda dá pé. Mas logo depois já tem um buraco comenta os salva-vidas Aurélio Juarez Rodrigues.
Na tarde de quarta-feira, Rodrigues chamou a atenção de um rapaz. O jovem avançava lentamente para o fundo.
Estava no raso. Só fui até a placa, estava indo de costas, não percebi. Achei boa a atitude dele, porque assim mantém a segurança de todos admite Moisés Salazar, 18.
Neste veraneio, Rodrigues fez dois dos três salvamentos ocorridos nas Tunas.
Em um dos casos, foi o de um adolescente de 16 anos. Eu já tinha mandado ele sair do fundo duas vezes. Na terceira, ele disse: me ajuda, me ajuda. No final de semana, é mais complicado porque tem banhista que ingere bebida alcoólica. Peço com jeito para eles saírem. Dificilmente alguém bate o pé conta o salva-vidas.